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Adestramento da Cultura




Em Defesa dos Animais Humanos e Não humanos!
Contra a Cultura da Tauromaquia, Monarquia e Oligarquia!

Gladiadores (e) Animais!
Os objectos das elites! A raiz do seu poder!  






No dia 14 de Agosto, em Caldas da Rainha, estreou-se em Portugal um “espectáculo” de Gladiadores na Praça de Touros. Malabaristas, saltimbancos e ginastas, todos aficionados, vão relembrar o tempo das lutas entre animais não humanos e animais humanos para jubileu dos presentes. Uma forma de atrair novos aficionados para uma cultura tauromáquica, através da “brincadeira”, do jogo e da “ligação” entre a população de Caldas e da Zona Oeste com a elite tauromáquica local, nacional e Ibérica. Enquanto a luta de décadas contra os animais de circo estava a dar alguns passos, e as pessoas entendiam que para se divertirem não necessitam de explorar, torturar e matar animais ,que vivem sempre em cativeiro com o único intuito de serem lucrativos, seja na arena, no prato, nos laboratórios, no desporto, no lazer ou no turismo, a industria tauromáquica, vendo-se sem soluções para o financiamento das suas praças de touros, inicia um rol de espetáculos, que levam às vacadas, às largadas-á-corda, ao touro com cornos a arder, a um nível aceite por todos - menos os radicais vegetarianos e defensores dos animais- e dentro da leis de bem-estar animal e espetáculos.
Com a celebração da lei de reconhecimento da capacidade de os animais sentirem o mundo à sua volta e onde deixam de ser objectos por decreto legislativo, como ficamos em relação a este tipo de eventos “culturais”, onde o animal é subjugado aos interesses humanos, sendo tratado como uma coisa, sem direitos próprios?

 A indústria tauromáquica tem um passado monárquico de que se orgulha e que o Estado Português financia hoje através do Ministério da Agricultura, do Ministério da Cultura (educação), Ministério do Ambiente e Ministério da Administração Interna. Tem as portas das escolas abertas, ao contrário dos “radicais” anti tourada, apoios camarários para pagar contas, espaços e infraestruturas necessárias ao seu negócio, ao contrário dos grupos que querem criar condições para recolher animais abandonados, ou formas de entretenimento  sem animais. 



Desta vez foi ainda mais longe na sua valorização dos “bons velhos tempos” de que as Repúblicas e Democracias se deveriam desmarcar, os tempos romanos. Roma faz parte das raízes históricas da cultura ocidental, desde o progresso militar, de construção, agricultura e religião. Foram tempos onde a supremacia de uns sobre outros se enraizou como forma de organização social civilizacional. A Cultura tauromáquica assenta na tradição cristã e nacionalista através do trabalho do homem na terra para a indústria latifundiária. O seu maior argumento para se manter as touradas é a tradição portuguesa e a conservação dos touros.

Que cultura apoia um aficionado?


Foto:  Moçambique 1932

Os Gladiadores são dos tempos romanos, feitos escravos depois da sua captura, nas guerras da expansão económica romana e do cristianismo, muitas vezes depois da sua aldeia ou povo ser eliminado e as suas mulheres tornadas escravas sexuais nos bordéis dos senhores. Treinados para morrer ou matar em nome da pacificação da população, da estabilidade do Estado Romano, da superioridade humana sobre o restante mundo vivo e não vivo, e para a aceitação de que uns são mais fortes que outros, o que justifica a organização social por classes existente ainda nos dias de hoje.
Eram colocados a lutar entre si (muitas vezes das mesmas tribos ou famílias) ou contra animais selvagens como leões, tigres, cães, elefantes, cobras, touros e mais. É essa a mentalidade que este espetáculo vai tornar banal e divertido. Roma, como outras civilizações antes dela era uma sociedade baseada em escravos. Os patrícios (grandes proprietários) monopolizavam o poder, excluindo os plebeus (pequenos proprietários e povo) dos postos dirigentes. Por volta do ano 287 a.c. as revoltas dos plebeus levaram à igualdade política (não social), onde patrícios e plebeus se uniram para uma nova sociedade política (início das Repúblicas). 

Nos primeiros anos a divisão de trabalho não era tão acentuada, o plebeu trabalhava na terra com poucos escravos, o que diminuía a distância social, atenuando de certa forma a hierarquia. Mas apareceram os “homens de bem”, definidos pelos romanos como Oradores, homens capazes de dirigir um Estado, suas assembleias, estabelecendo-o através de leis, e reformado pela justiça. (1)
Eis aí, antes de tudo, o homem de bem  Habemus igitur ante omnia virum bonum. O Homem de bem, vir bonnus da definição de Catão, é o homem das classes dirigentes, a quem a educação desenvolveu as qualidades necessárias, não só para cuidar dos interesses dessas classes e aumentá-las, como, também, para defender a sua classe contra as ameaças da populaça amotinada” (2)


No século V o número de escravos era em média de 1 para cada 16 homens livres. Depois da segunda guerra Púnica e a conquista das Gálias a expansão rendeu mais de um milhão de escravos, o número de escravos era o dobro dos homens livres. O exército romano era seguido pelos mercadores de escravos. Quantos povos tribais da península não foram vendidos? Com um número crescente de escravos, os senhores dos domínios rurais entregaram a lide das suas propriedades a um escravo de confiança, e o trabalho começou a ser visto com desprezo e ocupação de classes e raças inferiores. Este tipo de sociedade só pode ser mantido através da violência física ou cultural. 


Os escravos mais robustos eram educados como gladiadores, para distrair e proteger o senhor e Roma. As escravas eram educadas nas artes, poesia, e afins para agradarem sexualmente aos nobres devaneios. As várias revoltas de escravos levaram a que os senhores criassem o Peculium (3), além da venda da liberdade do escravo ou sua família ao próprio escravo. O escravo pagava sempre mais dinheiro do que tinha custado, o que tornava a sua liberdade um negócio lucrativo para os esclavagistas (donos/comerciantes de escravos). Os escravos libertos juntaram-se aos pequenos proprietários, e ambos foram arruinados pelos latifundiários por volta do séc. IV a.c., entregando-se ao comércio e à indústria. Foi por esta altura que a educação estatal começou pela primeira vez na história, iniciada no ano 362 por Juliano para impedir a entrada dos cristãos na escolha dos professores, e no ano 425 Valentino proibiu toda a forma de ensino não estatal. Tudo isto devido à necessidade que as classes dominantes tinham de preparar funcionários para o Estado. Os professores, como o exército, defendiam os interesses de Estado.

O homem feudal que tanto orgulha a tradição tauromáquica, aprendendo com a queda de Roma, mas com raízes nos escombros da economia antiga, inicia um novo regime económico que não assenta sobre o trabalho “escravo” e do colono, mas sobre o servo e o vilão.
O vilão, descendente de colonos romanos, não se vendia, oferecia-se, eram livres. Propunham a alguém o cultivo de terras pelas suas mãos, em troca de compensações. O pedido tinha poder jurídico e era conhecido como súplica ou precária. O vilão reconhecia uma autoridade que o próprio escolheu aceitar. Por sua vez o servo era descendente dos escravos, não era livre nem assinava contractos, nunca podendo abandonar o serviço ao senhor.
Na Idade Média o feudalismo era constituído por 3 grupos sociais: os bellatores (guerreiros), os oradores (religiosos) e os labatores (trabalhadores).
Os gritos contra a propriedade privada e contra a exploração pelas mãos dos poderosos, que se faziam ouvir pelos primeiros padres da igreja católica, foi sendo abafado (pelo Vaticano e Roma)  (4)

A Igreja tornou os seus mosteiros em poderosas instituições bancárias de crédito rural. Nesses mosteiros a divisão de classes continuava a existir. De um lado os monges, dedicados ao culto e ao estudo, do outro os escravos, os servos e os conversos, destinados aos trabalhos. (5)

Seguindo as ideias de S. Bernardo, da Casa de Borgonha de que os Hommes de Peine (homens de trabalho braçal) - pelo simples facto de serem analfabetos - (…) apresentavam mais resistência à fadiga e eram capazes de suportar tarefas mais longas e mais penosas (6)


Os cavaleiros, como representantes da sua classe social eram (e são) a idealização das virtudes guerreiras. Os torneios eram a preparação para a guerra, na defesa do seu senhor. Foi assim que apareceram as touradas…

Invasão da cultura “portuguesa”

Na Lusitânia foram criadas no séc. III, juntamente com a criação dos inspectores imperiais (tipo FMI), 3 províncias romanas conhecidas como conventus, na zona de Santarém e a norte do Douro até além do Guadiana. Depois da conquista, com a paz de Augusto, a Lusitânia entra em franca prosperidade económica, assente no desenvolvimento da agricultura. Neste mesmo séc. III o cristianismo confrontava abertamente o conceito de superioridade romana, o culto dos deuses romanos (guerra, agricultura, sexo/amor), o culto da imagem através da recusa da divindade imperial, a escravidão (base da economia) e os espectáculos degradantes e desumanos dos dominadores romanos (coliseus, banhos aos deuses, etc). A igreja, em nome dos cristãos, assimilou quase todas as superstições pagãs e cultos (tribais) locais, tornando a civilização cristã a base da cultura romana, ao transformar as crenças animistas dos indígenas peninsulares como verdades suas. Deste modo o cristianismo primitivo foi assimilado, modificado e apropriado pela Igreja Cristã Romana, e Roma no séc. III recebia de vários locais do mundo, da Primeira Guerra Púnica 75.000 escravos. Na segunda guerra com o mesmo nome foram feitos escravos 150.000 indígenas… Ámen!




 Alguns escravos tinham sorte e eram educados para tarefas domésticas e civis, ou então como filósofos, professores, artistas e arquitectos. Os menos afortunados, bárbaros ou criminosos (como as “tribos da Lusitânia”), iam parar às escolas de gladiadores e aos horrores de minas e pedreiras.
Depois de Viriato ter corrido com os romanos e D. Afonso Henriques com os árabes, a escravatura continuou a ser fonte de economia “nacional”. No séc. XII já existiam escravos negros na Europa, trazidos quando da 1ª Cruzada, e pelos desejos de D. Afonso Henriques em 1441 foram trazidos os primeiros “cativos” pelos navegadores, para trabalharem na agricultura, eram mais um recurso natural, criado para se obter lucro. Mais tarde em 1443 Lançarote de Lagos realizou uma expedição às Ilhas de Arguim, de onde trouxe 275 escravos. Este comércio era aplaudido por Reis e Papas que assim salvavam as suas almas (dos negros) através do grémio católico. A escravatura foi o pilar da economia baseada na cana-de-açúcar e da economia dos principais reinos da Europa. Angola era a principal fonte de abastecimento de escravos, o Estado (Reino) português recebia por cabeça 3000 reis quando iam para o Brasil e o dobro para as índias de Castela. Em 1591 a exportação de escravos estava registada em 5000 pretos anualmente. (7)
Enquanto os funcionários eram instruídos nos mosteiros e ensino privado para dirigir e educar, os pobres e os selvagens eram domesticados para o proletariado (mão de obra). 
Roma e os Tempos Moderno
 Do Livro; Roma, S.A. A ascensão e a queda da primeira corporação multinacional; Stanley Bing. Coleção Guru, editora Lua de Papel:
 (…) as empresas começam com uma boa ideia, crescem a fornecer produtos e serviços aqueles que deles precisam, expandem áreas de actividade; evoluem, criando mais do que destroem, sempre levadas pelo desejo central de fazer bem feito e manter os seus gestores satisfeitos. Desde o princípio que Roma tinha uma ideia empresarial simples e boa – de que todos os que fossem conquistados por Roma, trazidos para o negócio, passavam a ser romanos. Os que eram comprados deixavam de ser ELES: passavam a ser Nós. Roma vendia cidadania ao Mundo. Numa época em que a maior parte do mundo vivia e morria a chafurdar na lama e a tentar apanhar peixes à mão numa ribeira rochosa, esse era de facto um bom produto! (…)
O que preferiam ser? Um director de planeamento estratégico ao serviço de Roma ou o vassalo de um tipo qualquer coberto de peles?
O império romano não caiu. Fez simplesmente o que todas as entidades empresariais fazem se querem sobreviver através dos séculos e milénios – reinventam-se e emergem como novas entidades globais altamente organizadas, espiritualmente unificadas, altamente politizadas e imensamente ricas, para continuarem a crescer até aos dias de hoje. Chama-se Igreja Católica Apostólica Romana. (…) nesses primeiros tempos, a igreja, que de repente se tornara na cultura empresarial que qualquer pessoa inteligente abraçava, simplesmente absorveu as características de organização e liderança do império que servia ostensivamente. Quando essa entidade secular controladora desapareceu, foi a igreja que ficou de pé. (…) deram um novo nome ao patrão e continuaram a trabalhar. Guerreiros, vendedores, espertos, arquitectos, mendigos, assassinos, festivos, mercadores e políticos, todos andaram pelo mundo a adquirir novos territórios e a produzir riquezas, fazendo-o sobre diversas bandeiras.(…)  




Ao Longo Dos Tempos

De um artigo do jornal Expresso: O Segredo dos Escravos Reprodutores:

Tem criação de escravos mouros, alguns dos quais reservados unicamente para fecundação de grande número de mulheres, como garanhões, tomando-se registo deles como das raças de cavalos em Itália. Deixam essas mulheres ser montadas por quem quiserem, pois a cria pertence sempre ao dono da escrava e diz-se que são bastantes as grávidas. Não é permitido ao mouro garanhão cobrir as grávidas, sob a pena de 50 açoites, apenas cobre as que o não estão, porque depois as respetivas crias são vendidas por 30 ou 40 escudos cada uma. Destes rebanhos de fêmeas há muitos em Portugal e nas Índias, somente para a venda de crias.
 
Em 1571, João Batista Venturino da Fabriano, secretário geral do cardeal Alexandrino Miguel Bonello relatou a existência de escravos reprodutores na Casa Ducal de Vila Viçosa (importante casa nobre portuguesa) quando propunha casar Margarida de Valois como noiva de S. Sebastião… no séc. XVI viviam 350 pessoas no Paço Ducal e os escravos eram criados num local conhecido – e chamado ainda hoje- pelos trabalhadores como a Ilha.
Falando dos escravos, a linguagem do autor é bastante solta, e por isso não transcreveremos esta passagem. Basta saber que estes desgraçados eram considerados e tratados como as raças de cavalos em Itália, e pelo mesmo método, que o que se buscava era ter muitas crias para as vender a trinta e quarenta escudos - Alexandre Herculano, século XIX, Opúsculos, volume VI, sobre um texto de Venturino.
Impõem-se investigações rigorosas. Este é um documento de extrema violência, em que os escravos são tratados como cavalos. A investigação é difícil, mas tem de ser feita - afirmou isabel Castro Henriques, investigadora e escritora do livro "Os Africanos em Portugal, História e Memória, séculos XV-XXI”, numa conferência sobre a escravatura, na Biblioteca Nacional.

(…) em todo o Reino do Algarve, e em algumas províncias de Portugal (que tinham) escravas reprodutoras, algumas mais brancas do que os próprios donos, outras mestiças e ainda outras verdadeiramente negras, (designadas) ‘pretas’ ou ‘negras’(…) - Colecção da Legislação Portuguesa (1763-1790).



Pode-se pensar que isto foi passado e que o fim das monarquias e reconhecimento dos direitos humanos teria acabado com o fim da escravatura milenar. Mas um estudo de Caitlin C. Rosenthal, ligada à Harvard-Newcomen em história empresarial na Escola de Negócios de Harvad, revelou que os latifundiários do sul (mais que do norte) dos EUA no séc. XIX, lidavam com os seus escravos como recursos, acompanhavam meticulosamente a sua produção, mediação e momento a descartar o escravo, por outro mais novo e rentável. Esta foi a época da Grande Expansão dos EUA devido à sua indústria. Este trabalho faz parte do seu projecto livro: “From Slavery to Scientific Management: Capitalism and Control in América, 1754-1911”. E a edição Slavery’s Capitalism a sair…

O adoptar deste controlo dos escravos para melhor produção foi generalizado no Mississípi por Thomas Affleck, agricultor e contabilista, que desenvolveu os livros de contas dos latifundiários, padronizando a produção. Segundo registos sobre escravos, os dados eram utilizados, por exemplo, para calcular o número de chicotadas de acordo com o peso a menos pedido pelo patrão. No séc. XX as fábricas começaram a oferecer incentivos, prometendo prémios de produção.
existe uma pergunta maior e poderosa a perguntar, se hoje estamos a utilizar técnicas de manutenção (empresaria) que também foram utilizadas por donos de escravos de plantações - diz Caitlin,  Que cuidado precisamos de ter? Quanto mais precisamos de pensar na nossa responsabilidade com as pessoas? (8)


As Colónias Portuguesas

Portugal é conhecido por ter sido pioneiro na abolição da escravatura, em 1761. Mas essa abolição não funcionava nos territórios coloniais, e muitos esclavagistas continuavam a fazer negócio de escravos africanos para as colónias americanas, portuguesas e espanholas. Tanto que Portugal voltou a proibir o comércio de escravos em 1854, juntamente com a Grã-Bretanha, e só aí foram libertos os escravos que restavam em cativeiro, menos os da igreja católica, que só libertou os seus escravos em 1869, sendo o final da escravatura no império português… mas as colónias africanas só foram libertadas – por decreto- em 1974.

Tristão da Cunha é o símbolo de orgulho da Quinta do Castilho, da sua cultura e tradição, que como bom cristão, cavaleiro e homem de bem, só deixou o negócio da escravatura do homem sobre o homem em simultâneo com a igreja. A Quinta do Castilho é propriedade da família Infante da Camara, a mais conceituada no mundo tauromáquico, e que, em 2015 através do casamento (outra tradição) de Caetana Infante da Camara com João Ribeiro Teles JR, aumentou e fortificou a influência destas famílias de Cornos e cavaleiros. Império iniciado por Dr. Emílio Ornelas Infante da Camara, figura pilar da agricultura oitocentista, que com o Estado Novo fortificou sua influência e com a democracia consegue financiamento para se manter como imagem do bom português, criador de cavalos e touros para as forças de segurança, desporto e lazer. O bom latifundiário. Família que esteve na inauguração do Campo Pequeno em 1892 e na comemoração do seu centenário. Foi um touro da família Infante da Camara que pôs o forcado Nuno Carvalho (descendência africana) em cadeira de Rodas!? 




Os zoológicos também foram iniciados para deleite dos Reis e egocentrismo dos “descobridores”. Tristão como explorador de territórios virgens, onde hoje se situa Moçambique, Guiné, Angola, Senegal, Congo e Índia, foi além de esclavagista um dos primeiros comerciantes de animais selvagens vivos, a que hoje se chama programas de conservação de animais em perigo ou em extinção. No ano de 1514, numa visita como embaixador de Portugal ao Papa Leão X, levou consigo um elefante para o Papa, batizado de Hanno, que o adoptou como mascote do Vaticano, leopardos, panteras, papagaios, perus raros e cavalos indianos, entre outros animais das colónias, incluindo “pretos e selvagens” juntamente com riquezas da Índia. Hanno, como um cavalo de Dressage ou bem domesticado, ou um “bom homem de Deus” (servo), ajoelhou-se em sinal de reverência. Também ficou registado através de xilografia o rinoceronte que faleceu quando o navio onde era transportado naufragou. 



 

Hoje a conservação tem “tropas” de locais a matar locais e a vender caça grossa de animais em perigo a milionários e reis. Enquanto se assinala a morte de centenas de nativos pelos guardas florestais (também nativos), no El Corte Inglês vendem-se safaris de caça em reservas. A caça e a exploração como ferramenta de conservação. Mentalidades que viveram sempre da exploração do homem sobre o homem e do homem sobre a natureza. Tristão da Cunha foi o primeiro português a entrar no território conhecido como Guiné Bissau, nomeado 1º governador da Índia, embaixador junto do Papa Leão X e nomeado Cavaleiro de Cristo.


Na legislação de 1962 e na de 1986, a Ordem Militar de Cristo continuou associada ao exercício de funções de soberania e, em especial, à diplomacia, à magistratura e à Administração Pública. Finalmente, na legislação de 2011, voltou-se à referência mais genérica ao “exercício das funções de soberania”. Neste sentido, ao longo do século XX foram agraciados com a Ordem Militar de Cristo os titulares dos mais altos cargos da nação, como os antigos Presidentes da Assembleia da República, antigos Primeiros-Ministros e membros do Governo e antigos Chefes Militares. Em Visitas de Estado é frequentemente concedida aos cônjuges dos Chefes de Estado e, ocasionalmente, aos próprios Chefes de Estado. Assim aconteceu com a Presidente Michelle Bachelet, agraciada pelo Presidente Cavaco Silva em 2009. (…) Não existe actualmente qualquer Chefe de Estado agraciado com a Ordem, o que leva alguns estudiosos a considerar que a Santa Sé pretende descontinuar a Ordem. Deve notar-se que nunca o Grande-Colar foi conferido a qualquer Chefe de Estado português, pese embora a sua atribuição a personalidades como o Presidente Éamon de Valera da Irlanda, os Presidentes da República Francesa Albert Lebrun e Charles de Gaulle, o General Francisco Franco, Caudilho de Espanha, o Rei Balduíno I dos Belgas ou vários Príncipes Grão-Mestres da Soberana Ordem de Malta.  (9)





A tauromaquia é produto vendido e divulgado por Portugal, Espanha e França (na Europa). Portugal e Espanha têm laços ancestrais que os ligam latifundiariamente, religiosamente e politicamente que utilizam para manter a sua cultura e tradição, sendo a tauromaquia um dos pilares.
Portugal é um bom exemplo de ligações entre governo, política e famílias monárquicas. Mas deixamos o exemplo de Espanha, pois conseguiu mais (julgo que qualquer um pode comparar com a situação em Portugal). 


Arias Canhete, com um longo percurso no aparelho partidário do PP, entre 2011 e 2014 foi Ministro da Agricultura, Alimentação e Ambiente no governo de Mariano Rajoy, tendo antes, entre 2000 e 2004, sido Ministro da Agricultura e Pescas no último governo Aznar. (…)cunhado por casamento do ganadeiro Juan Pedro Domecp (Ganadeiro de touro bravo para Lide e Cavalos). A sua ligação à tauromaquia manifesta-se ao longo da sua carreira política e governativa de forma clara. Em 2001, em defesa do interesse da nação (e seu e de sua mulher, filha dos marqueses de Valência e restante família tauromáquica), Cañete escusa-se do Conselho de Ministros que aprovava um decreto-lei preparado pelo seu ministério sobre apoios à raça bovina de lide (touros de arena). Nesse mesmo ano Rajoy delega-lhe a pasta de apoio ao sector taurino. Foi Cañete a forçar em Espanha a PAC (Política Agrícola Comum), que entre 2014 e 2020 pretende subsidiar com 47 mil milhões de euros o sector agro-pecuário, que em muito beneficiará a ganadaria.  (10)

Canhete foi nomeado Comissário do Ambiente e Energia da Comissão Europeia. O Ministério da Educação do Estado Espanhol em 2015 propôs às regiões autónomas a abertura de um novo curso profissional em “Tauromaquia e Atividades Auxiliares em Pecuária”.
Francisco “Chição” é o presidente da Juventude Popular em Portugal desde 2016, fervoroso católico e aficionado das touradas. Seu objectivo ser politicamente como Paulo Portas ou quem sabe como um Canhete!





Num país como Portugal que viveu até à bem pouco tempo nas graças e abandono dos latifundiários, religião e fascismo, como é possível continuar a haver consenso no desrespeito à liberdade ou no dever de manter a tradição da exploração dos ladoratores pelos oratores.
A esmagadora maioria das forças politicas têm nos seus quadros aficionados. Umas por direito e outras por dever! Umas por tradição… Outras por confusão?

Acabar com as Touradas não é só pelos touros e cavalos. É por todos os animais humanos e não humanos que sofrem na indústria latifundiária, caça e turismo. É por todos nós! 









1- Quintiliano e Plínio, o moço: Oeuvres Complétes, paris, 1853
2-      Educação e Luta de Classes; Anibal Ponce: Educação do Homem Antigo: Roma, pag. 74
3-      Lei romana: quando um pai ou senhor permitia que o seu filho ou escravo tivesse uma propriedade registada como sua.
4-      Montesquieu: Grandeza y Decadencia de los Romanos, Madrid., Bloch, ob.cit: “ Se o cristianismo se tivesse encerrado obstinadamente nos seus princípios, não vemos de que modo o império se teria transformado em império cristão” pág. 302. Na página 306: “A paz fez-se (entre império e a igreja), mas a expensas do cristianismo, não da igreja.”
5-      Na ordem dos Templários, repetiu-se depois um fenómeno análogo: temos, de um lado, os fréres du convent e, do outro, os fréres du métier, nobres, aqueles, de classe inferior, estes. Educação e Luta de Classes, Anibal Ponce, editora Vega
6-      Besse: les Moines de LÁncienne France, pag 249-250
7-      Curso de História da Civilização Portuguesa; A. Martins Afonso, professor do liceu camões. Porto Editora


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